Uma das frutas que mais aprecio é a manga, especialmente a tipo Palmer. Fruta maravilhosa, suculenta e de um sabor incomparável. Na minha infância, o final de ano era a hora de comer a fruta diretamente das mangueiras, que ficavam carregadas de frutos. A garotada se deliciava com as mangas espada, rosa e carlotinha. Hoje em dia temos mangas o ano todo — não sei como conseguiram isso e prefiro nem pensar neste tema e nas possíveis consequências de tantas alterações no ritmo da natureza…
O fato é que, toda semana, compro duas ou três destas mangas. Vou acompanhando-as pelo aroma, aparência da casca e maciez. Logo que ficam maduras passo para a geladeira e dali aos prazeres da mesa.
Mas é curioso que mesmo escolhendo com critério, evitando as que estão excessivamente verdes por terem sido colhidas prematuramente, por vezes, uma ou outra não amadurece. Acaba por evoluir de modo atípico e estraga sem amadurecer, tornando-se imprópria para o consumo. Ainda não consegui identificar os sinais corretos e acabo, vez por outra, adquirindo algumas destas frutas.
Desconfio que também tenha gente que envelhece sem amadurecer, exatamente como ocorre com as mangas e outras frutas. É certo que a idade chega biologicamente para todos nós, mas quanto à maturidade tenho sérias dúvidas. Sim, porque maturidade não tem a ver com o simples passar dos anos, mas com a capacidade de absorver o aprendizado que a vida nos oferece e assim crescer em reflexão, bom senso e equilíbrio.
Claro que é desejável e até admirável mantermos o espírito jovem e também deixarmos viver plenamente a criança que habita em nós. Mas isto é bem diferente de viver sem aprender com as consequências de nossas próprias escolhas e decisões. Os que não amadurecem preferem atribuir tudo à responsabilidade dos outros. Ou do destino. Ou de Deus…
Há uma frase famosa que prega que envelhecemos com o passar dos anos, mas só amadurecemos com o passar dos danos. É como se a maturidade precisasse da adversidade, ou seja, a ideia de que mar calmo não forma bons marinheiros. Mas me pergunto se existe alguém em cuja vida inexistam adversidades. Qual marinheiro só pega mar calmo? O pacote da vida inclui necessariamente os obstáculos e sofrimentos. Portanto, não me parece explicação suficiente ou satisfatória.
Noto, por exemplo, que alguns traços de imaturidade sobressaem nestes tempos de pandemia. Um deles é a dificuldade que alguns encontram de diferenciar desejo de necessidade. O “eu quero” é uma coisa, o “eu preciso” é outra bem diferente.
Tenho ouvido frases assim:
— Eu preciso sair de casa!
— Tenho que respirar, não aguento mais usar máscara!
— Este álcool resseca minhas mãos. Chega!
Ou seja, simples expressões de desejos confundidos com necessidades. Melhor dizendo, desejos conflitantes com as verdadeiras necessidades. São os atalhos da imaturidade.
É possível que os caminhos longos e difíceis fiquem apenas para os mais maduros. Estes sim, conseguem adiar prazeres imediatos por bens maiores e de longo prazo, enquanto os imaturos, mesmo com mais idade, acabam por ceder aos desejos de momento, sem considerar as consequências de médio e longo prazo, característica tipicamente infantil.
Outro sinal claro de imaturidade é quando a gente acha que os outros precisam sempre agir da mesma forma que nós agiríamos. Como isso é comum… E torna-se um verdadeiro fardo! Faz pesar a nossa vida e nos leva a gastar muito tempo e colher grandes decepções.
Estas reflexões me ocorreram tempos atrás durante um jantar em Maceió. Recomendado por amigos, fui com minha mulher a um famoso restaurante de frutos do mar. Era um local simples, com salão pequeno, mesas excessivamente próximas e muito menos silencioso do que o desejado, mas muito frequentado devido a comida farta e saborosa.
Fomos acomodados em uma das poucas mesas vazias, numa lateral do salão. Ao nosso lado, a uma distância que eu poderia chamar de quase íntima, havia um casal também recém-chegado. No mínimo desconfortável.
Naquela situação de quase compartilhar uma mesa com pessoas desconhecidas só nos restou a opção de tentar ignorar a presença deles e desfrutar da nossa refeição da melhor forma possível. Este era o plano, que logo mostrou-se impraticável.
O casal, na faixa de 45 a 50 anos, após pedir as bebidas, deixou as amenidades de lado e ele, de cenho franzido, disse:
— Vamos ver se pelo menos hoje você vai me ouvir. Posso falar?
— Eu sempre te ouvi. Você é que nunca me deu atenção — foi a resposta dela.
Péssimo começo, pensei. Acusações mútuas nunca conduziram ninguém ao entendimento. A partir daí embrenharam-se numa infrutífera discussão sobre os motivos de estarem se separando após longos anos de casamento, sempre num clima de reclamações e autodefesa, que crescia junto com o tom de voz.
Diante da situação constrangedora, nós optamos pelo silêncio, mas é claro que o casal conseguiu estragar o próprio jantar e também o nosso. Tentei ignorar aquela conversa, mas as frases não cessavam de invadir nossa mesa:
— Você quis comprar aquela porcaria de apartamento. Não é um lugar para uma família viver.
— Deve ser por isto que você resolveu estragar o nosso filho, com uma educação protecionista e distorcida. Ele se tornou uma pessoa problemática.
O interessante é que de vez em quando eles faziam silêncio, mas isto, longe de aliviar o clima, elevava ainda mais o constrangimento.
Meu Deus, por que marcaram este jantar? Foi o evento errado, no lugar errado, na hora errada, com a conversa errada! E, infelizmente, com o casal errado na mesa ao lado…
Onde ficaram a sensatez, o bom senso e o equilíbrio? Será que com aquela idade não percebiam que dizer tudo o que se pensa pode ser uma grande falta de maturidade?
Saí de lá pensando que talvez o que melhor define a maturidade é a busca de soluções ao invés da fuga dos problemas.
É saber onde colocar a intensidade. Não na ansiedade, mas na calma. Não na materialidade, mas na alma!
Antonio Carlos Sarmento
Sarmento, vovó sempre me dizia: “Roupa suja se lava em casa”. A mesa, na minha casa, era um local sagrado. Papai não admitia nem conversas durante o jantar. Depois da sobremesa o papo rolava solto, mas durante a janta, um silencio respeitoso. Sou intolerante com gente que leva problemas para o jantar, ou crianças mal educadas que gritam, batem talheres no prato e os pais assistem calados aquele circo de horrores. To ficando velho, intolerante e chato, creio. Mas mesa de pasto ainda me é um lugar sagrado. Bom domingo e Deus os abençoe.
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Amigo Luigi,
A mesa para mim também merece respeito e a hora da refeição deve ser sempre um momento especial. Portanto, se você por isto estiver velho, intolerante e chato, somos dois…
Um grande abraço e muita saúde para você e sua família!
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Parabéns!
Hoje em dia não precisa nem estar numa mesa de restaurante para ouvir discussões, atritos, etc, especialmente via ligação de celular.
Quando ainda andava no ônibus do condomínio ouvi conversas e discussões que não deveriam ser faladas em público. As pessoas esquecem que, por ser seu telefone, não estão com privacidade. Ouvi sobre traição, doenças, desvio de dinheiro, entre outras barbaridades.
Saia do ônibus sem olhar para os bancos para nunca identificar o autor do falatório em público.
A propósito, manga é minha fruta preferida.
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Cris,
Muito obrigado por comentar.
Conversas privadas tornadas públicas são sempre descabidas, ainda mais quando os próprios personagens dão a publicidade.
Infelizmente isto parece ser muito comum. Também vivi esta situação no ônibus do condomínio…
Quanto à sua preferência, na nossa próxima reunião a sobremesa já está definida: manga!
Beijos e saúde para vocês e toda a família!
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Maturidade…bom senso…capacidade de respeitar e pensar nos outros… etc
Eu sei que todos temos as nossas falhas e que ninguém é perfeito, mas há muita falta de princípios e de cuidado por aí. Infelizmente.
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Dulce,
Em países diferentes e constatamos a mesma realidade.
Muito obrigado por comentar.
Abraços
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Verdade que a natureza é sábia só nos trazendo a maturidade com o passar do tempo. Eu , por exemplo, aos 72 acho que sou uma pessoa muito melhor que aos 25. Ah, assim como as mangas espero continuar gostosa kkkk. Que bom que você voltou !!!
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Amiga Lucia,
Fico contente que tenha sentido falta das crônicas e se alegrado com o retorno. Palavras como as suas me incentivam a continuar escrevendo.
E ainda com tanto bom humor, característica dos maduros, que sabem brincar consigo mesmo.
Beijos e saudades minha amiga!
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A maturidade se expressa de diversas formas, e realmente saber o que dizer pra ajudar na melhoria da relação e o que omitir é uma delas. Mas mais importante do que dizer, é “como” dizer. Isso é uma habilidade que uns poucos nascem e outros desenvolvem devido às regras sociais. De fato, as crianças e os idosos idosos (crianças do avesso) não possuem censura e dizem tudo o que vem à cabeça sem se preocupar com a maneira. Por isso fico achando que o mais instintivo é esse ímpeto de falar tudo mesmo. Rsrsrs… temos que ter maturidade pra desenvolver essa habilidade.
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Fefe,
A falta de maturidade atrapalha muito a vida em vários aspectos. Selecionar o que, como e quando dizer algo à alguém, é uma arte!
Obrigado pelo comentário, minha assídua e querida leitora.
eijos!
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Seja bem vindo! Sua crônica completa o domingo e o tema é pertinente ao momento.
Não sei se desejar sair de casa, apanhar sol, exercer a liberdade, são só desejos ou necessidades.
O cuidado com tudo e com todos é obrigatório, sempre.
Mas acredito que a maturidade diz quando devemos ou não adotar determinados comportamentos.
É muito bom ter temas para refletir e amigos para trocar ideias. Você nos proporciona ambos. Agradecemos de coração. Muita saudade do casal!
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Helena Célia,
Com alegria recebo seu comentário. Ter vocês como amigos é um privilégio.
Também estamos com muitas saudades.. Se Deus quiser, mais um pouco e poderemos nos reencontrar.
Um abraço e o nosso carinho a você e Nelson!
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Concordo com você. Maturidade não tem a ver com idade, e sim com a sabedoria de quando falar ou calar.
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Grato pelo comentário Pedro!
Às vezes é preciso um maracujá para acalmar e moderar o impulso de falar… hahaha
Abraços!
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Caro Antonio Carlos:
Gostaria imensamente que, hoje, com 74 anos, tivesse a jovialidade dos 20/30 anos. Mas, em compensação, naquela época, tenho certeza de que não desfrutava da maturidade, do equilíbrio e da experiência de vida que agora tenho.
Parabéns por mais um excelente artigo, cuja leitura já se tornou um saudável hábito aos domingos, pela manhã.
Sds. do amigo,
Carlos Vieira Reis
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Caro amigo Carlos,
Espero que já esteja totalmente recuperado.
Agradeço muito suas palavras e saiba que seus comentários também já se tornaram para mim um saudável e agradável hábito dos domingos.
Um grande abraço!
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Sr. Sarmento, parabéns pela EXCELENTE crônica!
O livro “Como Fazer Amigos e Influenciar Pessoas” mostra formas suaves que têm muito mais resultado do que essa de querer sair vencedor de uma discussão.
Já virei fã!
Um EXCELENTE e ABENÇOADO domingo a todos!
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Antonio,
Agradeço suas palavras.
Este livro que você citou é de fato uma referência e até hoje permanece atual. Grato por lembrar desta leitura.
Fico contente que tenha ficado fã das crônicas e espero que desfrute.
Grande abraço e uma excelente semana!
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Impressionante como esse assunto faz pensar. Hoje com um filho de quase 2 anos vejo claro a imaturidade em suas ações o que me impressiona, mas infelizmente não me espanta, é ver muitos jovens, adultos e idosos com atitudes similares.
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Jeancarlo,
Concordo com você: as atitudes infantis nas crianças são até interessantes, mas em adultos…
Abraços e obrigado por comentar!
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Não só na mesa, mas sempre e em todo lugar, é tão bom perceber apenas as qualidades e o lado agradável das pessoas com quem convivemos. Muito especialmente o cônjuge! A Lei do Retorno é infalível!
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Querido amigo Roberto,
Muito obrigado pelo comentário.
No que se refere ao cônjuge tenho certeza de que a Aidê assinaria embaixo, pois vocês são um exemplo de casal – a lei do retorno em ação!
Grande abraço e fiquem com Deus!
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Excelente tema para uma boa meditação…
Armando e Valéria Penna
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Obrigado pelo comentário, queridos amigos Armando e Valéria.
Abraços saudosos!
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Aprender com o viver, eis aí o caminho da maturidade apontada nas sábias palavras da crônica de hoje Cau!!!
A comparação com o amadurecimento das frutas é perfeito!! Só não pode “cair de maduro “!!!!😉😊😄
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Minha irmã,
Cair de maduro nunca: talvez se caia mais por não estar maduro o suficiente…
Obrigado pelo comentário e fico contente que tenha gostado da conexão com o amadurecimento das frutas.
Beijos!
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Grande meu Amigo, Muito boa noite, Mais uma excelente crônica, destaco como marca desta excelência a frase: “Saí de lá pensando que talvez o que melhor define a maturidade é a busca de soluções ao invés da fuga dos problemas”. Recomendações à Sonia e demais familiares.
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Meu querido amigo JH,
Grato por comentar. tenho sempre muita curiosidade em saber o que despertou mais a sua atenção.
Saudades do amigo…
Um fraterno abraço em você e toda a família!
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Excelente primeiro texto do ano, cuja mensagem me fez refletir o seguinte.
Não há ninguém plenamente maduro e nem, tampouco, totalmente infantil. O segredo, a meu sentir, está no equilibrio destas duas qualidades, na habilidade em dosar cada uma delas ou as duas, simultaneamente, na ocasião e oportunidade adequadas.
Parabéns.
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João,
Bela observação! Acho que enriquece as reflexões que o texto pode ter provocado.
Muito obrigado pelo comentário.
Abraços!
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Excelente!
Começando pela metáfora da manga e concluindo com a comunicação assertiva que deve ser em gestos e palavras, verbal e não verbal.
Parabéns!
Show de crônica, para guardar com carinho.
Grande abraço meu irmão.
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Chico,
Fico feliz que tenha apreciado a metáfora e gostado da crônica. Sempre aguardo seu comentário com expectativa.
Obrigado meu irmão!
Beijos
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E aí parceirinho, tudo bem na terrinha ? Crônica maravilhosa, retornou das férias brilhando, parabéns. Aliás, também adoro manga palmer abração. ET: 🙏 fake com o Jesus.
Enviado do meu iPhone
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Queridíssimo amigo Luiz Carlos,
Nossa identificação é muita grande: já está convidado para uma degustação de manga Palmer! hahahaha
Obrigado pelo seu gentil comentário.
Um abraço fraterno, do seu saudoso amigo!
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Esse casal não está nada bem, hein! Podia ter oferecido uma manga pra eles pra tentar adoçar a coração deles…rsss E maturidade realmente não tem a ver com idade, e sim na forma como encaramos a vida. Abraços, Antonio!!
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Nicole,
Não tive esta ideia da manga para adoçar aquele casal… hahahaha
Obrigado por seu comentário e por acompanhar as crônicas.
Abraços
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Ei Cacau!
Estou com meninos enchendo o apartamento de animação, pipocando de cá para lá, cantando, brincando, brigando, mas procuro um jeito de dizer como comparou tão bem a questão da maturidade.
As frutas que não amadurecem se tornam impróprias ao consumo; as pessoas, inconvenientes ao relacionamento.
As frutas maduras e doces favorecem a saúde e o prazer; as pessoas , nosso coração e nossa mente: são refrigérios para nossas dores e nossas dúvidas.
Pronto! Meu pernambucano me chama para dar uma volta.
Só dá tempo de deixar um grande abraço.
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